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O MENINO DO ENGENHO - Classico Brasileiro

Por Caio Zuntta


Quando eu li “O Menino do Engenho” eu estava na faculdade. E foi interessante como esse livro chegou até mim. Eu vivia uma fase triste da minha vida. Eu diria: a minha “adolescência melancólica”. Na época eu trabalhava num “sebo”. O “sebo” fechou e fiquei com esse livro. Eu terminara uma leitura recentemente e não sabia qual seria a próxima. “O Menino do Engenho” era um dos que estavam ali perto de mim. Nos dias seguintes teria um seminário na faculdade no qual teríamos que falar sobre um livro. No entanto, não poderíamos escolher o livro que queríamos. Seria sorteado. Fiz em dupla e, incrível e coincidentemente, a minha parceira tirou “O Menino do Engenho”. No dia seguinte comecei a leitura do livro. Quando li a primeira linha pensei: “Era dessa leitura que eu estava precisando nesse exato momento da minha vida”. Pensei isso porque, como falei, eu vivia uma fase triste e o livro começa triste. E eu, quando estou triste, costumo ler coisas tristes para me sentir melhor – é, eu faço isso.

É um livro que emociona desde a primeira frase. Sua leitura flui e é cheia de surpresas. Mas, o seu forte, são os flashbacks que nos levam de volta à infância. Para aqueles que adoram se lembrar de suas infâncias é um ótimo livro para isso. E para os que não ligam, ainda assim vale à pena a leitura devido ao seu caráter sensível e sincero.


Alerta: há spoiler!

A obra compõe-se de quarenta capítulos breves. Do primeiro capítulo ao terceiro, temos a primeira infância, as primeiras relações existenciais.

Conta a infância de Carlinhos, um menino que fica órfão aos quatro anos de idade, depois do trágico assassinato da mãe pelo pai. Carlinhos é levado pelo tio Juca ao engenho do avô materno José Paulino (O Santa Rosa), enquanto o pai é preso e levado para um hospício. No engenho, Carlinhos vai conhecer a tia Maria, moça bondosa e generosa, que será para ele sua segunda mãe. Em contrapartida conhece a tia Sinhazinha, uma mulher velha de uns setenta anos, cunhada do avô que implicava com tudo e todos.

Longe dos olhos da tia Maria, e na companhia dos primos, conhece um mundo de aventuras, desigualdades sociais vividas pelos empregados do engenho, promiscuidade e desrespeito sexual. E foi nesse ambiente de falta de cuidados e atenção, que Carlinhos começa muito cedo sua vida amorosa, apaixonando-se pela primeira professora (Judite) e pela prima Maria Clara. Em meio ao desenvolvimento da infância de Carlinhos, alguns acontecimentos são marcantes como: a grande enchente que destruiu plantações, casas, pessoas e animais; a morte da prima Lili; o cangaceiro Antônio Silvino; o episódio do lobisomem; a morte do negro José Gonçalo e a de um trabalhador; retratam a turbulenta vida no engenho e são importantes para a construção da identidade do menino.

Com o casamento da tia Maria, o menino passa a ser cuidado pela tia Sinhazinha, bem mais séria e distante. A repressão o levou a um estado maior de libertinagem, principalmente sexual. Quando contrai uma doença venérea aos 12 anos com Zefa Cajá, a família decide enviá-lo a um colégio interno, o lugar cujo qual o tornaria um verdadeiro homem.

TEMPO NO ROMANCE

O tempo se dá cronologicamente. Uma das evidências disso é que Carlinhos tem quatro anos de idade quando a narrativa começa, e doze quando termina e sem retornos ou flashbacks ao passado.

“Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu”.

“Tinha uns 12 anos quando conheci uma mulher como homem”.

Cena do filme de 1965 ‧ Drama ‧ 1h 50m


ESPAÇO NO ROMANCE

O romance se passa na região canavieira da Paraíba, especificamente no Engenho Santa Rosa, do Coronel José Paulino. E é no engenho que acontece praticamente todos os fatos marcantes do romance.

Encontramos outros ambientes como os engenhos visitados; sítio do seu Lucino, o Oiteiro, o Maravalha e o Santa Fé.


NARRADOR

Narrado em 1ª pessoa por Carlinhos ao qual é narrador-protagonista, participa da história demonstrando suas próprias impressões sobre ela.

“Eu tinha sido criado num primeiro andar. Todo o meu conhecimento do campo fizera nuns passeios de bonde a Dois Irmãos”.

“A minha primeira paixão tinha sido a bela Judite, que me ensinara as letras no seu colo”.


O AUTOR

José Lins do Rego Cavalcanti, filho de João do Rego Cavalcanti e Amélia do Rego Cavalcanti, nasceu em 03 de junho de 1901, no engenho Corredor, situado no município de Pilar, estado da Paraíba.

Forma-se em advocacia aos 22 anos.

Em 1925 , em Manhuaçu, Minas Gerais, é nomeado promotor público.

Em 1926, deixa o Ministério Público e transfere-se para Maceió, Alagoas, onde passa a trabalhar como fiscal de bancos. E ainda em Maceió, escreve seus três primeiros romances: “Menino de Engenho”, “Doidinho” e “Banguê”.

Em 1932, publica seu livro de estreia que vem a ser “Menino de Engenho”, onde o livro é custeado por ele mesmo. Ainda nesse ano, recebe o prêmio da Fundação Graça Aranha e é saudado pela crítica com entusiasmo e a edição de dois mil exemplares é quase toda vendida no Rio de Janeiro.

Passa a fazer parte de um grupo de intelectuais que ficariam sendo amigos seus pelo resto de sua vida, são eles: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti e outros.

José Lins ainda publica 12 romances: um volume de memórias, livros de viagem, de literatura infantil, de conferências e de crônicas.

Em 1935, é nomeado fiscal do imposto, no Rio de Janeiro que é o local onde viveria pelo resto da vida.

É eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 15 de setembro de 1955, como sucessor de Ataulfo de Paiva.

José Lins do Rego falece em 12 de setembro de 1957, sendo enterrado no mausoléu da Academia, cemitério São João Batista.


Referências:

Livro: José Lins do Rego, O Menino do Engenho, 85ª edição, José Olympio, 2003.

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